taz Escreveu:Muito complicada essa questão que tem dois lados, ele poderia sim recusar o papel mesmo perdendo dinheiro, acho que as pessoas não devem vender suas convicções por uns trocados, como fez o Marco Ribeiro, que agiu de acordo com o que ele acreditava, eu acho que pelo posicionamento religioso que ele tem, é meio complicado ele fazer esse tipo de coisa. Entretanto o Michel tem razão, o cara é um ator, quer dizer ele tem que fazer aquilo que o papel dele pede pra fazer, ator não tem dessas coisas, ele faz o que tem que fazer e pronto. O problema na verdade não é que o cara fale palavrões, ou nem mesmo a questão da religião que ele professa, e nem que ele seja um ator, a questão é outra, quem está mais errado o Marco Ribeiro por ter recusado o papel de homossexual em um filme ou o Marconatto por fazer algo que a religião dele não admite, pelo que eu sei, e ainda assim o Marconatto é uma espécie de sacerdote na religião dele, assim como o Marco Ribeiro, portanto deveria ter uma conduta exemplar.Concordo contigo. Eu nasci em uma família cristã fervorosa e com grande influência dentro da congregação que frequentávamos. Sempre sonhei em ser dublador, desde que era bem pequeno, e quase sempre era confrontado com perguntas como "E se você for escalado para dublar um demônio?", "E se você for escalado para dublar um gay?", "E se você for escalado para dublar um personagem bíblico numa obra que não é fidedigna ao livro?". Acabei tendo de cessar minhas expectativas por um tempo. Hoje sou agnóstico e não ligo mais, quero ser dublador e vou lutar para isso. Mas, noto que cada vez mais conceitos que tem mudado dentro da religião de que eu e minha família éramos adeptos. Antigamente nem passava pela cabeça dos líderes que filmes produzidos por nós fossem feitos, por exemplo, até porque profissões como de ator e futebolista também eram rechaçadas por lá. Enfim, voltando, hoje em dia são desenvolvidos dezenas de filmes por ano que são disponibilizados pelos cantos mais variados da internet. Então o que eu acho é que mesmo convenções pragmáticas como as religiosas tendem à passar por mudanças significativas, evoluções. Não acho que caso exista um deus, ele queira que nós abdiquemos dos nossos sonhos -- e também da nossa felicidade -- para seguirmos à ele incondicionalmente. Somos indivíduos, ora bolas, com desejos, estimativas e opiniões que quase sempre diferem da do próximo.
Agora, quero lembrar uma coisa, o Marco Ribeiro não tem o meu respeito pelo seguinte, ele se recusa a dublar um cara que é gay, mas ele não se recusou a dublar um demônio, ou o descendente de uma linhagem de demônios, que foi o Yusuke Urameshi, e fora que o desenho tem bastante coisa que seria considerada normalmente como "putaria", ele pega na genitália de um personagem transgênero por exemplo, um ato que seria visto com suspeição em um país latino-americano, predominantemente católico, como o Brasil, só pra sentir como é a questão, e ele fez tranquilamente o papel. Agora, eu me pergunto quem é mais hipócrita o Marco Ribeiro e sua religiosidade que age seletivamente sobre determinados papéis que representam grupos sociais oprimidos (hoje nem tanto, mas no passado ostensivamente), ou o Marconatto que por ser ator realmente tem que fazer coisas que vão contra ao que é pregado na sua religião?
É uma coisa bem complexa a ser discutida, eu francamente acredito que ator tenha que fazer de tudo mesmo. Mas isso não compactua com a outra profissão que eles tem, que exige, de certa forma, alguns hábitos, algumas atitudes que sejam exemplo para os seus fiéis. Deve ser muito difícil escolher entre um lado e outro, eu acho que eles devem sim escolher um lado preferencial nesta história, porque ficar em cima do muro, com esse tipo de comportamento seletivo que flerta com o preconceito é complicado. Espero não ter falado nenhuma asneira, mas acho que os dois discutiram questões pertinentes e apresentaram visões consistentes da história, só que de lados opostos, tentei aqui através desse post, conciliar ou contrapor ambas as visões. Não vejo como conciliar aspectos religiosos com a profissão de ator, acho que todo ator tem o direito de ter a religião que quiser, mas a partir do momento que ele usa como meio de vida a religião também, aí a coisa fica extremamente complicada, porque uma hora ele vai acender uma vela pra Deus e outra pro Diabo, será que existe essa necessidade da escolha de um dos lados? Lembrando que usei as expressões Deus e o Diabo, no significado popular da expressão, jamais com viés religioso.
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