taz Escreveu:Sabe Bruce, eu descobri tardiamente que não adianta reclamar desse tipo de coisa, primeiro porque a gente sempre sai perdendo, porque a maioria sempre vence cara, e se maioria acha que é isso, é isso e acabou, o que a gente pode fazer é tentar fazer com que as coisas se modifiquem, e que no futuro a realidade seja mais favorável, embora não seja ideal, porque nunca vai ser, mais que seja mais justa nesse sentido, se é que vc me entende, justa no sentido do Platão mesmo.Você tá certo, cara. Infelizmente é como eu disse no tópico E se fosse dublado no RJ. Depois do cliente, quem manda é o público que em geral é leigo, "não sabe o que quer" e por esse e outros motivos pede Márcio Seixas no Ben Affleck, Guilherme Briggs no Sylvester Stallone e afins. A dublagem e os profissionais que compõem o meio, felizmente, tem expandido seu alcance na cultura pop, cada vez as pessoas tem pesquisado e estudado sobre isso, mas ainda estamos num nível onde os artistas de voz são reconhecidos, mas o trabalho em si não. Porque se estivesse, estariam pedindo, sei lá, o Marco Ribeiro pra fazer o Chespirito, e não o Daniel Müller.
Concordo com tudo que você colocou, aliás nada mais preciso do que tudo isso, mas se o pessoal acha isso, o que nós podemos fazer, nada. Só a experiência, só o tempo vai mostrar quem tem razão ou não, e nós somos reféns dele, eu também pensava assim a alguns anos atrás, achava por exemplo que a voz do Chaves tinha que ser alguém que tinha a voz igual à do Gastaldi, mas de que adianta o cara ter a voz se a interpretação deixa a desejar, não adianta muita coisa. O Gastaldi era um excelente ator, um talento acima da média, e ficou eternizado como a voz do Chaves no Brasil. Mas acho que nesse caso seria interessante uma solução meio-termo, uma voz que não necessariamente seja tão semelhante à do Gastaldi, mas que tenha uma interpretação que vista tão bem o papel quanto ele.
Eu sempre imitei os dubladores em casa, e pros amigos, não só dubladores, como cantores também, Caetano e Bethânia que o digam hehehe. E o pessoal me dizia, "Nossa por que vc não vira dublador?", eu não quero virar dublador, primeiro porque eu vivo muito longe do eixo Rio-São Paulo, segundo eu não sou um ator, eu não sei criar tipos, eu sei colocar as emoções, eu não tenho expressividade, eu não sei me adequar às cenas, como é que eu vou ser dublador, se eu não sei interpretar, eu consigo reproduzir algumas vozes apenas, eu não sou um ator, e não sinto que eu tenha essa vocação, eu deixo isso pro pessoal que sabe fazer essas coisas todas, eu nunca tentei nem fandublar, nem ser fandubber, quer dizer, eu não sinto que a minha vibe seja essa. Isso é de cada um, infelizmente tem um pessoal que entra na dublagem só pela grana, pra complementar a renda, e faz cada trabalho..., mas eu não sou ninguém pra julgá-los, a vida é tão difícil, e a gente tem que correr atrás mesmo pra ver se consegue um lugarzinho ao Sol, e é assim que as coisas funcionam.
Felizmente um dia André Filho passou por aqui, e nos mostrou que era sim possível alcançar um certo grau de perfeição dentro do trabalho como dublador, mas ele é uma exceção à regra. As coisas mudaram, tudo mudou, no fundo todos somos insubstituíveis em alguma coisa, mas sim, mesmo que sejamos bons em algo, seremos substituídos assim mesmo, ou por alguém que faça o nosso trabalho melhor, ou que faça pior, ou que não faça hehe. Só acho que na dublagem não precisa haver um "herdeiro", ou um "sucessor", eu acho que cada caso é um caso, e cada dublador pode substituir um outro em alguns trabalhos e não em todos, porque ninguém consegue ser igual à ninguém, como é que um cara vai pegar todos os papéis do outro, não dá.
Sabe, eu faço parte do Meio CH há um tempo já, desde 2011, eu praticamente acompanhei a ascensão do Daniel e do Vini Cuca, que fez o Kiko, e foi algo totalmente inconvencional e implausível. O Daniel praticamente saiu da fã dublagem pra fazer o Chaves na Rio Sound, o mesmo com o Vini. Não sei o que eles fizeram pra chegarem onde chegaram, mas é evidente que houve dedo do fã clube e do pessoal mais influente num geral nessa decisão de pôr os dois. Eu não tenho nada contra não, achei que ficou razoável, mas eles são imitadores do Gastaldi e do Machado, o trabalho deles não substitui o de um profissional experiente da área. O próprio Marco Moreira, apesar de ser um cara já relativamente consolidado no ramo, só fez o Ramon Valdez por causa do timbre dele que é parecido com o do Carlos Seidl dos anos 80. Outra coisa que eu vi o pessoal fazendo, ainda relativo à dublagem de Chaves da Rio Sound, mas daí você pode até concordar com eles: reclamaram da reinterpretação da canção "Quando me Dizes" que no original da Maga era tosquissimamente interpretada. Na redublagem, Mauro Ramos e Márcia Coutinho. E mesmo assim pediram pela volta da versão original. Eu não entendi, até porque entendi que o que foi feito na redublagem foi bem melhor em vários sentidos.
Eu também sempre curti imitar dubladores. De tanto ouvir algumas vozes, estudar sobre isso, acabei pegando "o jeito" de alguns caras. Imito o Orlando Viggiani, o Carlos Campanille, o Ézio Ramos, o André Filho, o Newton da Matta. Mas cara, é imitar, no pleno sentido da palavra. Eu JAMAIS pensei em ganhar algum dinheiro com isso. Não é certo, não é ético, não é justo você substituir um dublador em determinado trabalho e imitá-lo, se não daqui à pouco vai ter novato imitando veterano que os estúdios vão preferir por fazerem mais barato. Percebem como esse tipo de situação seria absurda e vergonhosa para a indústria? Porra, cara, eu até me sinto um tanto sujo por falar sobre isso porque parece que quanto mais a gente fala de coisa ruim, mais elas acontecem.
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